Hoje atendi um adolescente de 15 anos, que acompanho desde recém-nascido. Ele vem sentindo muito medo e nestes momentos sente tonteira, falta de ar e não consegue prestar atenção nas aulas. Tudo começou após ter presenciado um colega tendo convulsão e pensado em morte. Outro colega está com leucemia e fica pensando se ele pode ter também. Chama o medo de alguma coisa do mal. Diz que consegue controlar só um pouco e que, nesta hora, o mundo fica estranho, como se ele estivesse num lugar do mal, e até as coisas passam a não parecerem reais. Piora à tardinha e quando vai dormir. Vem junto, uma grande angústia. Piora também na segunda-feira, após ter passado um fim de semana num local mais sossegado, onde os pais tem uma casa de campo. Até hoje, esse lindo rapaz não teve a experiência do beijo. Diz ter mais medo que vontade. Sonha ainda com brincadeiras infantis.
Há 2 anos atrás havia me procurado com queixas de que estava com medo de crescer. De fato, seu crescimento físico estava mais lento. Chorava de saudades da infância, com muito pesar por estar crescendo. Muito grudado à mãe, chorava com medo dos pais morrerem. Sempre foi um garoto certinho, organizado, responsável, de pouca transgressão.
Seus caninos foram arrancados, pois não caíam espontaneamente. Não concordo com esta conduta. Se não caíam era porque ele não estava emocionalmente maduro para a troca dos dentes. Sempre quando isto acontece, ou seja, quando os dentes de leite são arrancados antes de estarem moles, há uma perturbação no processo de amadurecimento, interferindo na fluência natural da solução do problema, e consequentemente, jogando a criança para angústia. Já vi inúmeros casos com este movimento.
A saída da infância muitas vezes é um luto difícil. É preciso refletirmos muito se nós pais, corroboramos com esta dificuldade. Muitas vezes, transmitimos aos nossos filhos que o mundo é realmente muito perigoso e que eles sozinhos não serão capazes de fazer esta travessia. É também comum, o pesar de que eles cresçam seja nosso.
Costuma vir junto: a percepção do real, o encontro com as fragilidades, como as doenças e a possibilidade de morte, e a entrada no assumir da sexualidade, pois ambos representam a travessia da infância para a maturidade, um luto portanto, até que a conquista da alteridade e da autonomia sobrepujam esta angústia.
Esta criança, bastante obsessiva e controladora, de repente, não tem saída diante desta falta de controle das pulsões, mais poderosas que o seu habitual controle.
Caninos são dentes ligados ao fígado e trabalham para o uso da assertividade com relação ao próprio destino e realização dos desejos pessoais. Segundo a leitura corporal também são capazes de trabalhar para nossas percepções mais refinadas e sutis, como aquelas ditas xamânicas.