Aconteceu um fato curioso comigo, em uma consulta de uma criança de 8 meses. Ela fez uma interação surpreendentemente boa comigo. Senti que ela acompanhava meu raciocínio clínico e compreendia meu pensamento, apesar da pequena idade, pois sorria quando a fala estava correta para ela. Quando fui examiná-la, quis chorar na hora de conferir os ouvidos. Parei o movimento e perguntei-lhe se me permitia examiná-la. Olhando atentamente para mim, fez um gesto com a boca, que parecia dizer algo, e permitiu docemente meu exame. O mesmo aconteceu com o ouvido do outro lado.
Depois de 26 anos de pediatria, posso testemunhar que está acontecendo uma mudança no padrão de entendimento e percepção das crianças. Vem uma certeza interna na gente de que eles entenderam e eles manifestam que sim. Antenadíssimos. Nada alienados. Sinto que, cada vez mais é preciso considerar a criança um sujeito, com nome, desejos e sentimentos. Cada vez mais eles pedem consideração com sua pessoa. Consideração e respeito. Essa pode ser a ética de uma reconstrução social, pois estas crianças serão os adultos a determinar nova ética. E gerar novos cidadãos.