Um dia, eu estava falando para crianças de 6 anos na Escola Balão Vermelho, uma escola construtivista de Belo Horizonte, sobre a relação de nosso corpo com o planeta Terra, e de suas composições semelhantes de água e minerais, que era o projeto de investigação deles. Elas me fizeram tantas perguntas curiosas que acabei levando uns slides que tinha para aprofundar um pouco o tema. Num deles, havia um trabalho de um artista plástico, no qual ele havia bordado num pano, pipas ligadas a carretéis de linhas coloridas, criando uma instalação muito bonita. Em outro slide, uma imagem de um óvulo e de espermatozóides em microscopia eletrônica. A imagem do óvulo, ampliada muitas vezes, tinha um aspecto muito parecido com um novelo de linha. Disse a eles:
– Eu acho que é assim que acontece com a gente, como no trabalho desse artista… a semente do céu (pipa) encontra a semente da terra (linha e carretel) e aí tudo começa. Aí a gente começa a ser tecido e construído.
Uma menininha, nesta hora, emocionada, levanta o dedinho e pede para falar, dizendo assim:
– Olha, gente, eu sou filha adotiva. Minha mãe sempre me explicou que eu vim do coração e não da barriga, mas eu nunca tinha entendido. Agora eu entendi. Foi a minha semente do céu que encontrou a semente da terra, que são meus pais adotivos.
De alguma maneira, os coleguinhas perceberam a emoção da confissão e se reuniram ao redor dela, como se dessem colo e chão para aquele insight luminoso.
INSISTO NISSO. CRIANÇA ENTENDE DE METÁFORA, DE ARTE, DE POESIA.