Outra menina de 3 anos, também insistiu muito para ir ao consultório. Insistiu tanto que sua mãe a mandou com a babá. Desenhou um barco com pessoas dentro e me disse, com muita seriedade:
– O barco está sem capitão!
É claro que chamei os pais para uma conversa depois dessa “deixa”.
Sempre, numa clinica, está em jogo, a relação de transferência que é uma relação de confiança estabelecida entre terapeuta e paciente. Este é um amor que abre portas e precisa ser bem manejado, para ser usado a favor do processo de cura. Estar no lugar de quem quer ouvir e colocar nosso desejo de curador no caminho certo do que possa ser chamada cura, abre a porta para o amor de transferência, muito facilmente manifestado pela criança. Nossas intervenções passam a ser muito mais bem aceitas e cria-se um estado de confiança também com os pais que ficam mais à vontade e confessam com mais entrega seus desejos e conflitos íntimos. A clínica com a criança passa pelos pais, mas é preciso ter um espaço de exclusividade para uma conversa apenas com ela, em separado dos pais. Tenho ouvido jovens que foram meus pacientes quando criança, dizerem do tanto que era bom ir para a consulta e que sentiam como se estivessem numa espécie de “EMBAIXADA DA CRIANÇA”.
Tenho o hábito de pedir que a criança faça uma desenho e me fale sobre ele. Anoto o que diz, com as palavras dela. Na maioria das vezes sou surpreendida com respostas inéditas.