Hoje atendi uma menina de 3 anos e 8 meses, encaminhada a mim por suspeita de depressão. De repente, sem nada de extraordinário acontecer, iniciou choro por tudo. Dificuldade para participar das atividades que, até então, para ela eram prazerosas. Além da necessidade de apego excessivo com as cuidadoras do berçário. Dizia que tinha saudades da mãe. Na consulta, quando eu tocava no assunto, ela desviava . Deu para perceber que sabia de que eu estava falando. Sua mãe me disse que ela estava indo muito triste para escola, mas não dizia da tristeza. Só conseguiu dizer que queria muito que a mãe a buscasse na escola, como a mãe de outros colegas. Na posterior de suas coxas, uma reação alérgica (área da espontaneidade). Ela realmente parece ter uma compreensão grande, além da idade, sobre a frustrante realidade. Não fica à vontade e nem sabe que pode reclamar. Acata, mas sofre. Acata por compreender que assim é, mas se entristece, sem reclamar. A sorte foi que derramou… Lágrimas e lágrimas.
Tenho vários brinquedos no consultório e, entre eles, um castelo que foi o escolhido por ela. Estava numa prateleira. Ela me perguntou assim:
– Por que não pode descer este castelo para o chão?
Ninguém tinha dito a ela que não podia. Interessante como elaborou a pergunta. Acho que ela já está vendo o mundo com esta lente do não pode, sem solução para encaminhar os desejos.
Momentos de crises emocionais nas crianças são muito preciosos porque nos fazem rever sua qualidade de vida. Sua tristeza ou depressão geralmente são reativas e dizem sempre que algo, em sua vida ou na vida de seus pais, poderia estar melhor, mais interessante. Ao invés de pensarmos em medicação, torna-se vital pensarmos na mudança favorável.
É melhor apresentar uma crise emocional do que fazer um adoecimento mais profundo, que neste caso, poderia ser até uma pneumonia, que limpa tristezas, doença que ela teve aos 2 anos de idade.
Existem crianças que diante do stress ficam muito irritadas, agitadas, ou ficam mais agressivas. Outras, se recolhem em tristezas e chegam até ao adoecimento como recurso para saída da crise. Melhor ouvirmos o que seu ser necessita. Melhor evitarmos o adoecer.